É como disse Boechat: a depressão não escolhe vítimas

Em 6 de novembro de 1817, a arquiduquesa Maria Leopoldina J.C.F.F Beatriz da Aústria, princesa da Hungria e da Boêmia e princesa de Habsburgo-Lorena, filha do último soberano do Sacro Império Romano Germânico e imperador da Áustria, Francisco I, desembarcou no porto do Rio de Janeiro para consolidar o casamento com D.Pedro I, filho de D.João VI e assegurar a aliança entre esses dois reinos. Naquela época raramente casamentos reais envolviam emoções fortes. Era apenas uma conveniência política e social. As filhas serviam como peões no tabuleiro político e máquinas de fazer filhos. A moça de olhos azuis,  nem bonita, nem feia, desde pequena sonhara conhecer a América. E, contrariamente à tradição aristocrática, a jovem estava entusiasmada com o matrimônio antes de embarcar para a América. Queria ser feliz lá e popular em seu futuro país. Pôs-se a estudar a música local e logo aprendeu o idioma.

Nem sua viagem num navio sujo que trazia gente demais, em sua maioria malcriada, nem pelo aspecto do Rio de Janeiro, que, embora cercado por belezas naturais, era horrivelmente sujo, fétido e abandonado, tiraria, de início, a alegria de Leopoldina. Ela achava que ficaria mais um ou dois anos no Brasil e, se nesse ínterim, pudesse contribuir para “a felicidade de seu esposo e dos portugueses, atingiria seus desejos e empenhos”.

Um mês após sua chegada, dias bucólicos, sem atrativos encadeavam-se. Leopoldina, isolada por sua diferença cultural com seus súditos, ficava cada vez mais restrita à sua residência. Sem amigos, achava a corte tosca, as serras cariocas que um dia foram comparadas às montanhas suíças já não tinham graça. Seu estado de espírito era de melancolia. Corpo lânguido, abatimento, fraqueza física e psicológica, sentia-se sem forças, sem energia, solitária, triste e angustiada.

É muito comum ouvir de quem não conhece o que é depressão que esta é uma doença de quem não tem o que fazer, de gente preguiçosa: “Dá um tanque cheio de roupa que cura rapidinho”.  O  leitor ao ler o brilhante livro “A carne e o sangue”, de Mary Del Priore, minha fonte sobre Leopoldina, pensaria: Ela não tinha o que fazer, naquela época a mulher era um objeto, certamente a ociosidade justificava sua depressão. E o que dizer de um jornalista extremamente ocupado e conceituado como Ricardo Boechat, que revelou recentemente que sofreu de depressão? É preguiçoso?

Depressão é uma doença que afeta pessoas ociosas, workaholics, religiosos, ateus. Como disse Boechat: “A depressão não escolhe vítimas por seu grau de instrução ou situação econômica. Castiga sem piedade e da mesma forma pobres e ricos, anônimos e famosos”. A depressão é um importante problema de saúde pública e será a segunda doença mais frequente em 2020, segundo a Organização Mundial de Saúde. É considerada uma das maiores causas de afastamento do trabalho e de suicídio e é provocada por condições genéticas e ambientais, que promovem um desequilíbrio químico e físico do cérebro.

Neste mês de setembro, vai se iniciar um movimento para conscientizar a população sobre o suicídio, que ocorre em 5 a 15% da população depressiva. Assim como já existe o outubro rosa para o câncer de mama, haverá o setembro amarelo para mostrar que para mais de 90% dos casos existe prevenção. Em um mundo onde se tem tantas fontes de aprendizado, é inadmissível que as pessoas permaneçam ignorantes ou indiferentes. Buscar ajuda é o primeiro passo para evitá-lo.

Sintomas da depressão/Diagnóstico de depressão

Para ajudá-lo a identificar os sintomas da depressão, acompanhe o algoritmo abaixo, retirado da quarta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV):

Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo, quase todos os dias;

Anedonia: interesse ou prazer diminuído para realizar a maioria das atividades;

Alteração de peso: perda ou ganho de peso não intencional;

Distúrbio de sono: insônia ou hipersônia praticamente diárias;

Problemas psicomotores: agitação ou apatia psicomotora, quase todos os dias;

Falta de energia: fadiga ou perda de energia, diariamente;

Culpa excessiva: sentimento permanente de culpa e inutilidade;

Dificuldade de concentração: habilidade frequentemente diminuída para pensar ou concentrar-se;

Idéias suicidas: pensamentos recorrentes de suicídio ou morte.

De acordo com o número de itens respondidos afirmativamente, o estado depressivo pode ser classificado em três grupos:

1) Depressão menor: 2 a 4 sintomas por duas ou mais semanas, incluindo estado deprimido ou anedonia;

2) Distimia: 3 ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido, durante dois anos, no mínimo;

3) Depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedonia.

 

Tratamento com Estimulação Magnética Transcraniana na Depressão.

Estudos de neuroimagem sugerem associação da Depressão com diminuição da excitabilidade ou função do córtex pré-frontal esquerdo (CPDLE) – uma região bem evoluída da parte da frente do cérebro humano relacionada ao humor – ou aumento da função/aumento da excitabilidade do córtex pré-frontal direito (CPDLD). Para regularizar essa disfunção, a Estimulação Magnética Transcraniana é usada para aumentar a atividade cerebral no CPDLE e reduzi-la no CPDLD. Como pode ser vista abaixo:

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A EMTr foi aprovada pela Anvisa e pelo FDA em 2007 e 2008, respectivamente, para tratamento agudo da depressão em pacientes que não responderam a pelo menos um teste terapêutico com antidepressivo. Como vantagens em relação à medicação, pelo fato de sua ação ser focal, apresenta um baixo índice de efeito colateral e pode ser considerada uma técnica muito segura, sendo realizada no consultório médico de forma não invasiva e indolor ao paciente. Em relação à literatura, há mais de 10 metanálises demonstrando um efeito clinicamente significativo da EMTr em pacientes deprimidos comparados ao placebo.

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Por: Dra. Vanessa Teixeira Müller 

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