“Além do Peso”, “Medida Certa” e “The Biggest Loser” são alguns dos programas que têm como objetivo auxiliar pessoas obesas a emagrecer. Excesso de peso associado com compulsão alimentar periódica estão relacionados com distúrbios químicos cerebrais, que têm como consequência a percepção de fome e saciedade alteradas. Desde o final da década de 50, o transtorno de compulsão alimentar é estudado a partir de grupos de pessoas que apresentam quadros de ingestão compulsiva. Existem diversas denominações populares, como crises de voracidade alimentar ou Binge Eating, mas todas remetem ao mesmo distúrbio, chamado de Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico. As causas para esse transtorno não associadas desde aos fatores genéticos, socioculturais, questões fisiológicas até traumas e demais vulnerabilidades psicológicas. Após as refeições exageradas, o paciente mostra arrependimento ou culpa, que configura o distúrbio pela frequência maior que duas vezes por semana de crise compulsiva alimentar.
Muitas vezes essas pessoas travam uma verdadeira batalha para a perda de peso, sofrem com baixa autoestima pelo estigma social a que estão sujeitos. Particularmente em mulheres o impacto parece ser maior, uma pesquisa epidemiológica com 15.099 mulheres espanholas encontrou associação significativa entre sofrimento psíquico, sobrepeso e obesidade. O mesmo foi encontrado em pesquisas nacionais, que mostram aumento de peso da nação em 60% nos últimos 10 anos e associação forte entre aumento do índice de massa corporal e transtornos mentais em mulheres brasileiras, sendo que entre 60 pessoas, 5 mostram problemas com transtorno de compulsão alimentar. Muitas dessas pessoas, quanto em graus elevados de obesidade, optam por realizar tratamentos agressivos e arriscados para reduzir o estômago e, consequentemente, a entrada de alimentos.
Nenhum dos procedimentos para reduzir o estômago é indicado para quem está apenas com sobrepeso. Nesse estágio, é necessário verificar as causas do aumento da ingestão alimentar ou da redução de gasto calórico. Em pessoas com obesidade extrema, com índice de massa corpórea igual ou maior que 40 (para calcular seu IMC, divida seu peso corporal pela altura multiplicada por ela mesma) é necessário verificar as reais causas do excesso de peso. Depois do procedimento cirúrgico, os pacientes perdem entre 70% e 80% do excesso de peso, porém um fenômeno tem sido observado com grande frequência: após um ou dois anos, o mesmo paciente mostra aumento de peso e um novo quadro de obesidade. Esse resultado negativo está diretamente associado com a falta de tratamento para compulsão alimentar.
Nesse sentido, como tratamento inovador e de sucesso, testada em Harvard, nos Estados Unidos, na Universidade de King, em Londres e atualmente, aqui na UNESP, no Brasil, a estimulação magnética transcraniana mostra melhora em 80% dos casos de pacientes que apresentam compulsão por comida. Em entrevista recente, explicamos como isso acontece: “Em casos de compulsão, essa área do cérebro apresenta menor atividade e, para que haja modificação na neuroplasticidade, é necessário realizar estímulos específicos em determinada área. A estimulação magnética transcraniana é capaz de realizar uma nova neuromodulação cerebral, reduzindo sintomas relacionados com transtornos após a exposição do córtex dorsolateral pré-frontal esquerdo à estímulos. As ondas eletromagnéticas atingem o córtex, na região do cérebro que está associada com o autocontrole e ao controle de ações impulsivas, aumentando dessa forma, a atividade específica dessa região.” No Canadá, na Universidade de Toronto, pesquisadores utilizaram ímãs acoplados em toucas na cabeça de pacientes com bulimia e os resultados mostraram que o tratamento foi 100% eficaz por um período de um ano, com uma frequência semanal de 5 vezes por semana durante um mês. Um problema central nessa pesquisa, foi o pouco tempo de permanência em tratamento de apenas 4 semanas, isso interferiu na manutenção da nova neuromodulação.
A estimulação magnética transcraniana não é invasiva, ou seja, utiliza bulbinas com estímulo que vem de fora para regiões específicas sobre a cabeça do paciente e não requer anestesia. Ela pode ser associada com medicamentos e demais tratamentos (cirurgias, terapias psicológicas, entre outros), mostra resposta rápida e os efeitos colaterais são raros, quando realizada por um neurologista habilitado para isso. Para isso, a estimulação magnética funciona com exames de imagem que determinam o ponto correto que receberá o estímulo eletromagnético. Após a determinação do local em que ocorrerá o estímulo, o paciente utilizará uma touca individual com as especificações do desenho dos pontos cerebrais particulares, associados com o tratamento da compulsão e, em seguida, o aparelho da estimulação emitirá ondas eletromagnéticas que atravessam o periósteo, o crânio e as meninges até a região específica designada para o tratamento. É importante ressaltar que o resultado associado com a estimulação magnética está associado com o tipo de ajuste de frequência do aparelho, que, no caso da compulsão, são excitatórias para estimular a área associada com autocontrole e inibitórias em regiões associadas com o comportamento compulsivo. As sessões tem duração entre 3 e 30 minutos, 3 x até 5 x por semana para que haja a resposta desejada e o tempo de permanência aconselhado em estudos é de 6 à 12 semanas, dependendo do caso.