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Diálogos com Dra. Vanessa Teixeira Müller: Dependência Química

Dra. Vanessa, nessas últimas semanas, um assunto polêmico sobre dependência química e a dificuldade em superá-la está chamando bastante atenção, por quê as pessoas se tornam dependentes?

As drogas acionam um local do sistema nervoso central, chamado de circuito de recompensa, que recebe estímulo de prazer e o transmite para o resto do corpo. As drogas que atuam nessa área do ‘sistema de recompensa’ desencadeiam uma ilusão química de prazer imediato elevado. Isso induz o indivíduo a repetir a utilização de maneira compulsiva. Por isso, álcool cigarro, maconha, cocaína e heroína causam dependência.

Dra. existem indivíduos que não bebem e não fumam, mas alguns fazem uso abusivo de álcool. Outros utilizam cigarro, cocaína ou maconha eventualmente, enquanto usuários de crack mostram frequência diária com a droga, qual a diferença entre esses casos?

Uma parcela da população tem tendência genética, assim como o contexto de vida pode fazer com que haja repetição da busca pelo prazer, assim como da tentativa em evitar desprazer associado com a ausência da substância. Infelizmente, nos últimos anos as drogas estão cada vez mais causando dependência. A maconha mostra concentrações 10 vezes maiores de seu princípio ativo hoje do que há 50 anos atrás. Esse fato associado com o uso cada vez mais precoce da droga faz com que o seu comportamento compulsivo de utilização aumente.

O que o uso em longo prazo de drogas pode provocar nos usuários?

Perda de interesse provocada pela síndrome amotivacional, ou seja, falta de vontade de estudar ou trabalhar, em portadores de transtornos mentais, a maconha piora sintomas de esquizofrenia e ansiedade, por exemplo. É essencial destacar o efeito agudo e crônico da maconha – no momento do uso, a pessoa passa por um curto período de relaxamento, mas cronicamente aumenta os níveis de ansiedade, pois o cérebro reage em uma tentativa de equilibrar o sistema, como a maconha tem efeito depressor, o sistema nervoso causa um efeito rebote inverso, aumentando os níveis de ansiedade. Por sua vez, a maconha reduz concentração, memória e atenção.

Em relação à cocaína, pode causar problemas cardíacos e cardiovasculares. Quando associada ao álcool, então, ela é uma das principais causas de infarto do miocárdio em jovens. A confusão cerebral eleva quando essas substâncias são combinadas e a tendência é utilizá-las cada vez mais.

Dra. existe muito preconceito com usuários de drogas, como quem está passando por isso enxerga a própria realidade?

A dependência química é uma doença e precisa ser compreendida como tal. O cérebro está com a sensação de que não existe outro tipo de prazer além da droga. O mesmo ocorre com o tabaco, 30% dos que o utilizam, quando se afastam apresentam sintomas de depressão. Por isso, é aconselhado procurar um bom médico, assim como outros profissionais da saúde que deem a atenção merecida para quem deseja tratar essa doença. Tratamentos próprios para reduzir dependência podem envolver internamento de 2 a 3 meses integral ou parcial, usando medicamentos, psicoterapia e estimulação magnética transcraniana. Nesse caso, grande parte da cura vem do desejo de ser curado.

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