Em conversas diárias na vida real e on-line sobre o tema da violência sexual tem sido tratado como se fosse apenas um tópico da neuropsiquiatria, não como crimes que afetam as pessoas para o resto de vida. Isso muda a própria estrutura dos cérebros. Não é um tópico frequente de conversa durante jantares, é claro. Mesmo assim, ainda é um assunto que as pessoas levantam regularmente, pois “todo mundo se torna um especialista” em situações noticiadas. Infelizmente ocorre o uso da palavra vítima em um sentido negativo. Esse é o erro número um, então vamos começar por aí:
Erro # 1: Vítima: Redução de Valor Culpando Sobreviventes de Violência Sexual
Muitas vezes pessoas que sofreram abuso sofrem por ouvir frases feitas, como: ‘Supere isso. ’ ‘Você só quer a atenção’. Ou ‘Por que você não ligou para o 190? Parece muito fácil. Mas não é, pois, o agressor realiza ameaças e chantagens – isso acontece principalmente em quem sofre violência sexual na infância e na adolescência.
A tendência de culpar a vítima é, em última análise, uma tentativa auto protetora. Isso permite manter uma visão de mundo ‘otimista’ e ‘assegurar de que nada de ruim vai acontecer’. O problema é que se sacrifica o bem-estar de outra pessoa para isso. Ignora-se a realidade de que os agressores são os culpados por atos de crime e violência, não as vítimas.
Erro # 2: Pré-julgamento sobre uma vítima
Veja a comunicação que as pessoas usam ao descrever mulheres que acusaram homens ricos em um julgamento criminal – “elas devem querer dinheiro ou fama” – isso pode ser um equívoco, não há dinheiro ou fama para se ter, já que muitas delas permaneceram anônimas. Isso é especialmente verdadeiro se a vítima estava bebendo ou drogada. Como uma recente pesquisa menciona, os cérebros são inundados por produtos químicos durante qualquer tipo de situação traumática intensa, em particular durante uma agressão sexual: por exemplo, o córtex pré-frontal é responsável pelas funções executivas, incluindo controlar a atenção e tomada de decisão, processo de pensamento racional e refreamento de impulsos. Em estados de alto estresse, medo ou terror, como combate e agressão sexual, o córtex pré-frontal é prejudicado: às vezes até efetivamente desligado – por uma onda de substâncias químicas do estresse (Lisak & Hopper, 2014).
Erro # 3: Tratar a violência sexual como política
A mídia social está repleta de teorias de conspiração sobre política. Por exemplo, o movimento #MeToo, que apresentou vozes comoventes e corajosas, compartilhando histórias horríveis de violência sexual para mudar leis e concepções acerca do tema foi atacado como se fosse um movimento ativista homem versus mulher, como direita versus ‘esquerda liberal’.
Erro # 4: O mito da vítima perfeita
As pessoas culpam as vítimas por não serem perfeitas. Se ela usasse aquele vestido vermelho, se ela estivesse bebendo, se ela não lutasse, se ela conhecesse o cara e eles fizessem sexo (como uma mulher se atreve a querer sexo), se ela estava andando tarde, se ela estava dormindo sua cama em uma camisola, se, se, se.
Erro # 5: Esperar um final feliz ou heroico
Os sobreviventes da violência sexual são nossos heróis. Levantam-se e vivem todos os dias, apesar de conviver com alguma combinação de ansiedade, depressão, flashbacks, dissociação, pesadelos, insônia, gatilhos, hipersensibilidade, hipervigilância, enxaquecas, qualquer número de distúrbios imunológicos, vício e todos os tipos de outros transtornos que ocorrem em vítimas de violência sexual. O Estresse pós-traumático é comum em sobreviventes de abuso sexual meses após o ataque.
Transtorno do Estresse Pós-traumático
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) consiste em reações disfuncionais intensas e desagradáveis que podem ter início após um evento extremamente traumático, como a violência sexual.
Sintomas de TEPT
Existem sintomas de intrusão – quando a situação traumática pode reaparecer repetidamente em formato de memórias.
Sintomas de esquiva – quando a pessoa evita de maneira persistente atividades, situações e pessoas que possam recordá-la do trauma.
Efeitos no pensamento e no humor – é possível que a pessoa não consiga se lembrar de partes signitificativas do trauma ocorrido. Também pode se sentir emocionalmente anestesiada ou desligada de outros seres humanos. O Transtorno Depressivo é comum em pessoas que sofreram abuso.
Alteração no estado de alerta e nas reações – podem ocorrer dificuldades em dormir e se concentrar. Assim como algumas pessoas desenvolvem atos ritualísticos com a intenção de aliviar a ansiedade. Vítimas de violência sexual podem desenvolver sintomas de compulsão por banho ou por lavar as mãos em uma tentativa de “remover a sensação de sujeira”. Outras usam álcool ou entorpecentes para aliviar sintomas.
Tratamentos para TEPT
As técnicas de controle de estresse, como respiração (inspirar profundamente em 3 segundos, segurar 3 segundos e expirar em 6 segundos) e relaxamento, são essenciais. Os exercícios que reduzem e controlam a ansiedade (por exemplo, ioga, meditação) podem aliviar os sintomas, além de preparar a pessoa para o tratamento que envolve a exposição estressante a memórias do trauma. Mesmo assim que os sintomas persistirem sugerimos um profissional e alguns tratamentos comuns em TEPT:
- Psicoterapia – dessensibilização e reprocessamento, por exemplo.
- Farmacoterapia – indicação do psiquiatra.
- Estimulação Magnética Transcraniana – provoca uma nova neuroplasticidade e melhora os sintomas.
- Neurofeedback – terapia com monitoramento cerebral contínuo para aumentar o controle do paciente sobre a própria ativação cerebral.
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