Dolores (nome fictício), 48 anos, branca, nascida no Rio de Janeiro, elitista social e ex-tabagista queixa-se que há 12 meses apresenta dores de leve a moderada intensidade de caráter difuso associado a queixas de fadiga, falta de motivação, falta de energia e insônia. Foi inicialmente atendida por um clínico que solicitou vários exames, e como dissera Dona Dolores, “não deram nada”. Depois de algumas tentativas com diversas medicações, principalmente anti inflamatórios, Dolores continuava com dor. E muito sabidamente o clínico pediu um parecer tanto do Psiquiatra quanto do Reumatologista. As perguntas eram um pouco diferentes, direcionadas pelos especialistas. O psiquiatra pediu a Dolores para preencher 3 questionários: de depressão, ansiedade e fadiga. Já o reumatologista enfatizou mais o exame físico. Apertou alguns pontos e chegou à conclusão de que dos 18 pontos que ele apertou, 14 eram dolorosos a dígito pressão.
Voltou ao clínico com os pareceres com diferentes diagnósticos: FIBROMIALGIA PELO REUMATOLOGISTA e DEPRESSÃO/ TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA/ FADIGA CRÔNICA. E sem entender nada perguntou ao clínico: os dois me deram diagnósticos diferentes, mas me passaram o mesmo remédio: Amytril! Por quê? Tentando explicar em uma língua que não fosse o mediquês, o clínico falou que ainda existe algumas discussões se realmente existe fibromialgia e/ou que as dores nada mais são que as expressões físicas da depressão e do transtorno de ansiedade. Já o antidepressivo fora prescrito porque tanto a depressão quanto a fibromialgia apresentam desequilíbrio entre mediadores do sistema nervoso central, principalmente envolvendo o metabolismo da serotonina, assim como em seu aminoácido precursor- triptofano.
Mesmo com diagnóstico diferente Dolores continuou seu tratamento com antidepressivo (Amytril) por mais 3 meses. Ainda se sentia estressada e com dor. Iniciou fisioterapia que aliviou um pouco no início, mas ainda assim sentia dores difusas. Fez meditação e yoga, que melhoraram um pouco seu humor e ansiedade. Mesmo após uso de vários medicamentos, terapias combinadas, Dona Dolores continuava a sentir dor…
Independente da causa ou da relação entre os distúrbios psiquiátricos e a fibromialgia, infelizmente muitas pessoas sofrem dor crônica, como a Sra. Dolores, e a abordagem terapêutica destes pacientes apresenta um padrão multidimensional. Contudo, estas múltiplas técnicas de tratamento são voltadas, geralmente, para um único aspecto da dor com uma resposta limitada na eliminação completa dos sintomas e das crises.
As técnicas de neuromodulação como a Estimulação Magnética Transcraniana e Estimulação por corrente contínua estão sendo utilizadas e a cada momento estão se desenvolvendo com objetivo de promover mudança no padrão cortical dos pacientes e o retorno da ativação normal de centros neurais de processamento da dor. Já existem inúmeros estudos que demonstram uma melhora importante nas variáveis da dor com poucos efeitos adversos, lembrando que também são eficazes para o tratamento de sintomas frequentemente associados à dor crônica, como ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Além disso, as técnicas de neuromodulação não invasiva apresentam vantagens comparadas a outras técnicas terapêuticas, por possuir um efeito focado, permitindo a associação com outras formas de tratamento, além de promover alterações plásticas (modulações) no córtex cerebral que levam a resultados clínicos mesmo após término do tratamento.
Por: Dra. Vanessa Teixeira Müller
Referências:
Fregni F, Boggio PS, Brunoni AR. Neuromodulação terapêutica- Princípios e avanços da estimulação cerebral não invasiva em neurologia, reabilitação, psiquiatria e neuropsicologia. Ed. Sarvier 2012.