Outubro rosa: a depressão é o segundo câncer

 “Dia das Crianças, feriado, um entre e sai aqui em casa. Vejo o meu filho de 9 anos correndo, pulando e confesso que a única coisa que penso é “Dá para ficar parado? Estou morrendo de dor de cabeça”. “Essa agitação me irrita”. Aliás, não sei se morrerei de dor de cabeça, mas talvez do câncer que carrego próximo de meu coração. Não tenho vontade de levantar da cama, sinto-me esgotada, insegura, enjoada, ansiosa e triste. Toco o tempo todo na prótese com o braço que não dói e só o que consigo focar é no meu medo de morrer. O controverso é que me sinto tão mal que não tenho vontade de me cuidar e às vezes penso que a morte me faria descansar fisicamente e psiquicamente. Às vezes me pego passando a mão na cabeça como um cacoete de mexer meu cabelo. O liso de meus fios foi substituído por fios de algodão de meu lenço. Sinto-me envergonhada e só de pensar nos olhares solidários em vez de me fazerem sentir melhor me fazem me sentir pior ainda. Ao mesmo tempo, se não me dão atenção sinto-me rejeitada. Quanta confusão! Não consigo sentir saudades do trabalho, apenas sinto falta de mim. É incrível como a doença transformou meu corpo, minha mente e minha alma”.

Roberta P- Rio de Janeiro

Em mulheres com cancer de mama, ansiedade, depressão, fadiga, dor e distúrbios do sono podem ocorrer. Fadiga representa o distúrbio mais comum, ocorrendo em 58-99% dos casos. Assim como no caso supracitado, pacientes com câncer precisam aprender a lidar com a frustração, o medo da dor e da morte, além do exaustivo tratamento. Por isso alterações de humor durante o tratamento são muito comuns: irritabilidade, depressão, ansiedade, tristeza e outros sentimentos negativos podem passar a fazer parte do cotidiano desta pessoa. A prevalência de distúrbios psiquiátricos (ansiedade, depressão, panico etc) acontecem em até 45% dos casos segundo diferentes fontes da literatura e a presença de dor e distúrbio de sono acometem cerca de 40% das mulheres com câncer de mama, prejudicando ainda mais a qualidade de vida dessas mulheres. O preocupante é que, embora haja uma alta prevalência, infelizmente essas doenças não são investigadas e diagnosticadas, e, quanto mais destes sintomas estiverem presentes, mais provável que o curso da doença apresente um resultado negativo. Embora a taxa de depressão seja alta, variando de 10- 40% dos pacientes, com altos indices de ideação suicida na ocasião do diagnóstico (10%) e na recorrência (14%) do câncer, estima-se que APENAS 2% das pacientes com câncer de mama são tratados para depressão.

Fatores de risco para DEPRESSÃO em pacientes com CA de Mama:

* Histórico de depressão antes do diagnóstico de câncer

* Histórico de alcoolismo ou abuso de drogas

* Risco maior no primeiro ano após o diagnóstico do câncer, principalmente em pacientes jovens

* Dor fora de controle

* Tratamento por quimioterapia

* Retirada da mama

* Mulheres com presença de dor e limitação do braço pós cirurgica

* Desequilíbrio de cálcio, sódio, potássio ou vitamina B12

* Dificuldades neurológicas

* Hipertireoidismo ou hipotireoidismo

 

Fatores de risco de SUICÍDIO em pacientes depressivos com CA de mama:

*Ocorrência de episódio depressivo prévio

*Dor não controlada

* CA maligno avançado com prognóstico ruim

* Diagnóstico concomitante de depressão

*Fadiga e exaustão

Tratamento da depressão em pacientes com câncer de mama

A maior barreira para o tratamento da depressão em pacientes com câncer provém da confusão entre a morbidade do transtorno depressivo maior, comparado com outras fontes de tristeza desses pacientes. Esses sentimentos de tristeza e desespero podem inibir a procura de cuidado pelos pacientes, dificultando o reconhecimento da depressão.

Pacientes com câncer utilizam vários medicamentos, toleram pouco os efeitos colaterais e necessitam de rápida resposta para o alívio dos seus sintomas. Diferentes tipos de antidepressivos apresentam efeitos colaterais diferentes, incluindo sexuais, náusea, insônia, boca seca ou problemas cardíacos. No entanto, os efeitos colaterais, geralmente, podem ser administrados com ajuste da dose ou trocando o medicamento. Dentre as terapias não farmacológicas como as Intervenções psicossociais, como técnicas de relaxamento, terapia individual e em grupo também pode ser utilizada na redução dos sintomas depressivos e de estresse em pacientes com câncer. O objetivo do tratamento psicológico é aumentar o enfrentamento e a habilidade para resolver problemas. Uma técnica que recentemente está sendo mais comentada: a ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA também pode ser uma estratégia terapêutica muito válida, pois, diferentemente dos medicamentos, apresenta baixo risco de efeitos colaterais, justificada pela ação focal da técnica, pela não interação com os medicamentos utilizados para tratamento do câncer e pela possibilidade do ajuste da intensidade do aparelho para cada pessoa.

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Referências:

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Silva JP, Geranutti, C., Job J. Fatores de Risco para Depressão em Pacientes com Câncer de Mama.  Journal of the Senologic International Society 2012; 1 (3).

Rodin G, Lloyd N, Katz M, Green E, Mackay JA, Wong RK. The treatment of depression in cancer patients: a systematic review. Support Care Cancer. 2007;15(2):123-36.

Bottino SMB, Fraguas R, Gattaz WF. Depressão e câncer. Rev. psiquiatr. Clín 2009, 36 Suppl 3; 109-15

Fregni F. Neuromodulação terapêutica: princípios e avanços da estimulação cerebral não invasiva em neurologia, reabilitação, psiquiatria e neuropsicologia 2012. Editora Sarvier Brasil.