Todos que já sofreram com enxaquecas sabem que elas não são simples dores de cabeça. Esses ataques dolorosos, muitas vezes debilitantes, podem surgir a qualquer momento, e não há nada que faça alguém desejar mais voltar para a cama do que acordar com uma dessas crises.
Neurologistas têm se esforçado para identificar as causas exatas das enxaquecas. Contudo, pesquisas indicam que a falta de sono pode ser um grande gatilho. Um recente estudo global publicado no Journal of Headache and Pain confirmou que uma noite mal dormida pode aumentar as chances de ter uma enxaqueca no dia seguinte.
Emily Stanyer, pesquisadora da Universidade de Oxford, destaca que muitos relatos anedóticos sugerem que pessoas com enxaquecas têm o sono interrompido. Pesquisas anteriores indicaram que interrupções no sono, como mensagens ou necessidade de ir ao banheiro, podem desencadear crises de enxaqueca.
Uma das dificuldades em entender a relação entre sono e enxaquecas está na metodologia de estudo. Muitas pesquisas se baseiam em dados relatados pelos próprios pacientes, que nem sempre são precisos. No entanto, este novo estudo adotou uma abordagem inovadora: coletou dados em tempo real através de um aplicativo de smartphone.
Neste estudo revolucionário, milhares de participantes registraram seus hábitos de sono e foram identificadas conexões claras entre interrupções no sono e a incidência de enxaquecas. A qualidade do sono mostrou-se tão importante quanto a quantidade.
Além disso, alterações no padrão de sono também influenciaram nas chances de uma crise no dia seguinte. O estudo sugere que compreender melhor a relação entre enxaqueca e sono é fundamental para tratar ambas as condições.
Pesquisas sugerem que a dor da enxaqueca pode alterar o sono. Mas, curiosamente, ao invés de diminuir o sono, a dor estava ligada a um aumento do mesmo. Isso pode ajudar a corrigir desequilíbrios no metabolismo energético do cérebro.
Teorias adicionais exploram a relação bidirecional entre sono e enxaqueca, abordando áreas do cérebro como o hipotálamo e substâncias químicas como a adenosina.
A conclusão é clara: existe uma relação cíclica entre enxaquecas e sono. Por um lado, as enxaquecas podem interromper o sono; por outro, dormir demais também pode causar enxaquecas. Romper esse ciclo é a chave para futuros tratamentos, e manter um padrão regular de sono pode ser o primeiro passo.
Tratamentos da Neurologia
A estimulação magnética transcraniana (EMT), o Botox (toxina botulínica) e o neurofeedback são abordagens terapêuticas que têm ganhado destaque no tratamento de várias condições neurológicas, incluindo enxaqueca e insônia. Vamos explorar brevemente como cada uma dessas modalidades pode ajudar:
- Estimulação Magnética Transcraniana (EMT):
- Enxaqueca: A EMT utiliza campos magnéticos para estimular áreas específicas do cérebro. Estudos têm demonstrado que a EMT pode reduzir a frequência e a gravidade das crises de enxaqueca, especialmente quando usada como prevenção. Além disso, a EMT pode ser uma opção para pacientes que não respondem bem a medicamentos tradicionais para enxaqueca.
- Insônia: Embora o principal foco da EMT seja em condições como depressão e enxaqueca, existem indícios preliminares de que ela pode ter efeitos positivos no tratamento da insônia, ajudando a regular a atividade cerebral e possivelmente melhorando a qualidade do sono.
- Botox (Toxina Botulínica):
- Enxaqueca: O Botox foi aprovado para o tratamento de enxaquecas crônicas. Funciona ao bloquear a liberação de neurotransmissores envolvidos na transmissão da dor. Quando administrado em pontos específicos ao redor da cabeça e pescoço, pode reduzir a frequência das crises de enxaqueca.
- Insônia: Atualmente, o Botox não é usado de forma padrão para tratar insônia. No entanto, se a insônia for causada ou exacerbada por problemas como bruxismo (ranger de dentes) ou espasmos musculares, o Botox pode, indiretamente, ajudar ao aliviar essas condições.
- Neurofeedback:
- Enxaqueca: O neurofeedback é uma técnica que treina o cérebro para funcionar de maneira mais eficiente. Pacientes aprendem a modificar a atividade elétrica do seu cérebro com base no feedback que recebem. Pode ajudar a reduzir a frequência e gravidade das crises de enxaqueca ao ensinar aos pacientes como regular a atividade cerebral que pode desencadear uma enxaqueca.
- Insônia: O neurofeedback pode ser eficaz no tratamento da insônia ao ajudar os pacientes a aprender a entrar em estados cerebrais que são propícios ao sono. Ao ensinar os pacientes a acessar padrões de ondas cerebrais relaxantes, o neurofeedback pode melhorar o início e a manutenção do sono.
Em todos os casos, é importante que os pacientes consultem um neurologista para discutir qual tratamento é o mais adequado para suas condições específicas e avaliar os potenciais riscos e benefícios de cada abordagem.
Fonte de informação: Can a Bad Night’s Sleep Trigger a Migraine? – Scientific American