Romeu Gutvilen com 7 anos de idade é a primeira criança brasileira a fazer parte da Mensa Brasil – grupo de alto quociente de inteligência (QI). O menino apresenta 138 de QI, enquanto a média em crianças do país é 87. Esse talentoso jovem é amante de xadrex, matemática e pratica esportes como futebol, judô, capoeira e tênis. Todos esses estímulos provavelmente auxiliaram Romeu na descoberta e desenvolvimento das próprias habilidades cognitivas. Mas para falar de inteligência e demais habilidades cognitivas, vamos mostrar aqui um breve conceito.
O Que é Inteligência?
Na visão tradicional a inteligência é conceituada como a capacidade de responder a testes de inteligência, o QI. Alguns testes realizados demonstram que a “faculdade geral da inteligência” não muda muito com a idade ou com treinamento ou experiência. A inteligência é uma habilidade com atributo genético. Habilidades secundárias, como concentração, atenção, memorização e fatores associados com aprendizagem são neuromodulaveis e podem ser desenvolvidas através de estímulos. O Neurofeedback, por exemplo, pode melhorar o potencial de ação das ondas cerebrais e desenvolver habilidades cognitivas em pacientes.
História da Teoria das Inteligências Múltiplas
Paris, em 1900, esse foi o momento em que procuraram um teórico chamado Alfred Binet, pais de crianças questionavam se havia alguma possibilidade de saber, por testes psicológicos, uma medida para o desempenho escolar. Nesse instante, foi criado o teste de QI. Todavia, esse teste com visão unitária provocou insatisfação em pesquisadores como Tarustone e Guilford, assim como para Gardner, o qual desenvolveu blocos construtores de inteligências de perfil cognitivo regular ou irregular em diferentes culturas.
Fatores que impactam em habilidades cognitivas:
- Potencial prejuízo com dano cerebral, a exemplo das habilidades linguísticas no Acidente Vascular Cerebral (AVC);
- Existência de gênios, pessoas com habilidades especiais ou onde se pode observar tal capacidade isolada ou prejudicada;
- Um conjunto de operações identificável. A música, por exemplo, consiste da sensibilidadepara a melodia, a harmonia, o ritmo, o timbre e a estrutura musical;
- Histórico de desenvolvimento distintiva para cada um, junto com uma natureza de desempenho especialista;
- Uma história evolutiva, a exemplo das formas de inteligência espacial em mamíferos ou inteligência musical em pássaros;
- Testabilidade, a exemplo dos testes neuropsicológicos, distinções psicométricas susceptíveis de confirmação e retestagem com múltiplos instrumentos;
- Suscetibilidade da habilidade para ser codificada em um sistema de símbolos. Códigos e símbolos como idioma, aritmética, mapas e expressão lógica, entre outros.
As inteligências Múltiplas de Howard Gardner:
Lógico-matemática
A habilidade de confrontar e avaliar objetos e abstrações, discernindo as suas relações e princípios subjacentes. Capacidade para raciocínio dedutivo e para resolver desafios matemáticos. Pesquisadores em exatas possuem esta característica. Caracterizados pela competência na interpretação e na categorização dos fatos e da informação, no cálculo, no raciocínio lógico e na busca de explicação. Sentem-se desafiados perante questões que envolvem raciocínio. Divertem-se ao resolver “quebra-cabeças” de revistas, aplicativos de celular, jornais, entre outros. Albert Einstein, Isaac Newton, Galileu Galilei, Antoine Lavoisier, Louis Pasteur, Niels Bohr e Nikola Tesla são exemplos desse tipo de inteligência.
Linguística
Caracteriza-se pela habilidade com idiomas, esse perfil de inteligência explora a linguística em vocabulário, criação e domínio sobre conhecimentos nessa área. Eliot, Noam Chomsky, Tolkien, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Haruki Murakami e Júlio Verne, são exemplos desse tipo de inteligência.
Musical
Identificável pela habilidade para compor e executar habilidades musicais em ritmo, timbre, audição e discernindo notas musicais e melodias. Pode estar associada a outras inteligências, como a linguística, espacial ou corporal-cinestésica. Ludwig van Beethoven, Leonard Bernstein, Midori, John Coltrane, Mozart, Maria Callas, Luís Miguel ,Michael Jackson e James Paul McCartney são exemplos desse tipo de inteligência.
Espacial
Expressa-se pela habilidade em captar, memorizar e interpretar o que se visualiza com precisão. Essa inteligência permite transformar, modificar percepções e recriar mentalmente experiências visuais. Alexander von Humboldt, Michelangelo, Frank Lloyd Wright, Garry Kasparov, Louise Nevelson, Helen Frankenthaler, Oscar Niemeyer, Marco Polo são exemplos desse tipo de inteligência.
Corporal-cinestésica
Traduz-se na maior habilidade de controlar, memorizar, aprender e coordenar movimentos do corpo. Ronaldo, Kaká, Marcel Marceau, Martha Graham, Michael Jordan, Cristiano Ronaldo, Messi, Sébastien Loeb e Roberto Dinamite são exemplos desse tipo de inteligência.
Intrapessoal
Expressa na habilidade de se conhecer, está ligada com a capacidade de neutralização dos vícios, entendimento de crenças, limites, preocupações, estilo de vida profissional, autocontrole e domínio dos causadores de estresse, entre outros diversos fatores que permitem a pessoa identificar hábitos inconscientes e transformá-los em atitudes conscientes. Ernest Hemingway e Friedrich Nietzsche são exemplos disso.
Interpessoal
Expressada pela habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos outros. Mahatma Gandhi, John F. Kennedy e Silvio Santos, são exemplos dessa inteligência.
Naturalista
É a sensibilidade para compreender e organizar os objetos, fenômenos e padrões da natureza, como reconhecer e classificar plantas, animais, minerais, incluindo rochas e gramíneas e toda a variedade de fauna, flora, meio ambiente e seus componentes. Charles Darwin, Rachel Carson, John James Audubon e Thomas Henry Huxley são exemplos desse tipo de inteligência.
Existencial
Carece de maiores evidências. Mas abrange a habilidade de refletir e ponderar sobre questões fundamentais da existência. Jean-Paul Sartre, Søren A. Kierkegaard, Alvin Ailey, Margaret Mead, e Dalai Lama são exemplos desse tipo de inteligência.
Testes neuropsicológicos podem auxiliar a detectar nossas inteligências?
Existem diversos testes na área neuropsicológica para avaliar habilidades cognitivas, cada tipo de avaliação é destinada para um público ou necessidade. Os mais comuns são:
- WISC-IV – Função Avaliada: Escala Wechsler de Inteligência para Crianças, permite a avaliação da inteligência geral, em alguns subdomínios (habilidade verbal e de execução) e fornece a medida de QI. Público-alvo: Crianças e Adolescentes de 06 a 16 anos.
- WAIS-III – Função Avaliada: Escala Wechsler de Inteligência para Adultos, permite a avaliação da inteligência geral, em alguns subdomínios (habilidade verbal e de execução) e fornece a medida de QI. Público-alvo: Adolescentes e Adultos de 16 a 89 anos.
- FDT – Five Digit Test – Função Avaliada: Velocidade de processamento, Atenção Focada e Controle Inibitório. Público-alvo: Crianças e Adultos de 06 a 92 anos.
- Teste de Trilhas Coloridas – Função Avaliada: Atenção Sustentada, Alternada e Dividida. Público-alvo: Adultos de 18 a 86 anos.
- Figuras Complexas de Rey – Função Avaliada: Visuoconstrução, Organização Perceptual e Memória Visual. Público-alvo: Crianças e Adultos de 04 a 88 anos.
- Columbia – Função Avaliada: Avalia capacidade de raciocínio geral de crianças pequenas e permite a avaliação de deficiência intelectual por se tratar de um teste não verbal. Público-alvo: Crianças 03 a 09 anos.
- Escalas Beck – Função Avaliada: Compõem Inventário de Depressão, Ansiedade, Desesperança e Ideação Suicida. Público-alvo: Adultos de 17 a 80 anos.
- Pirâmides Coloridas de Pfister – Função Avaliada: Aspectos da personalidade e dinâmica afetivo-emocional. Público-alvo: Crianças e Adultos.
- Stroop Test – Função Avaliada: Atenção seletiva. Público-alvo: Crianças e adultos.
- Trail Making Test – Função Avaliada: Atenção sustentada e alternada. Público-alvo: Crianças e adultos.
- RAVLT – Função Avaliada: Memória episódica verbal. Público-alvo: Crianças e adultos.
- HVLT – Função Avaliada: Memória episódica verbal. Público-alvo: Adultos.
- BVMT – Função Avaliada: Memória episódica visuoespacial. Público-alvo: Adultos.
- Grooved Pegboard – Função Avaliada: Coordenação motora fina. Público-alvo: Adultos.
- SON-R – Função Avaliada: Funcionamento intelectual. Público-alvo: Crianças.
- TDE – Função Avaliada: Desempenho escolar. Público-alvo: Crianças.
Neurofeedback: Tratamento para melhora de habilidades cognitivas e emocionais
Neurofeedback é uma técnica de neuroestimulação autorregulatória, baseada em treinamento comportamental e condicionamento operante. Durante a intervenção, o paciente é treinado com feedback ou respostas em tempo real nas ondas cerebrais registradas por eletrodos no couro cabeludo, que captam os sinais elétricos em diferentes áreas do cérebro. O paciente é estimulado enquanto o cérebro produz ondas em frequência e amplitude desejadas. O estímulo pode ser realizado através de tarefas cognitivas, filmes, desenhos, desafios, músicas entre outras habilidades. A onda cerebral desejada em cada área do cérebro é determinada por uma eletroencefalografia quantificada (qEEG), ou seja um mapeamento cerebral realizada antes para avaliar e posicionar os eletrodos e após um período de tratamento, para verificar as mudanças cerebrais ocacionadas pelo tratamento.
Os efeitos do Neurofeedback foram descobertos por Sterman, que estimulou o córtex motor de gatos com feedback de 15/12 Hertz (Hz) com uma diminuição na frequencia de convulsões. Há uma grande quantidade de pesquisas que mostram a eficácia do neurofeedback na melhora de habilidades cognitivas e em transtornos de aprendizagem. Assim como no tratamento de várias condições, como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do Espectro Autista (TEA), lesão cerebral traumática e esquizofrenia. Existem diferentes investigações com neurofeedback que mostraram a eficácia no tratamento de sintomas depressivos, ansiedade e em alterações na qualidade de vidas secundária a tumores cerebrais.