Depressão e a adolescência

Há pouco tempo atrás, em uma das conversas durante um churrasco familiar, meu pai comentou “Outro dia, arrumando o seu armário, encontrei um diário da época de sua adolescência e aleatoriamente li em uma página que dizia: Odeio os meus pais! Estou triste e revoltada! Me trouxeram para esse lugar que não tem nada para fazer…e para não aturar esses chatos, andei de bicicleta o dia inteiro”.Confesso que logo após perguntei ao meu amado pai: “você leu o diário inteiro? ” E ele respondeu: “não tive coragem”.

Quantos de nós já dissemos coisas horríveis para nossos pais e familiares? Quantos de nós, na adolescência, achávamos que nunca mais iria encontrar o amor verdadeiro e a felicidade após término de uma relação amorosa? Qual o limite normal entre as variações de humor nos jovens e a depressão/transtorno de ansiedade?

De fato a adolescência é um momento de muitas mudanças, transformações e as pessoas tendem a pensar na adolescência como um período conturbado, com variações do humor e crises emocionais. No entanto, há evidencias de que estes problemas não fazem parte necessariamente, do processo normal de amadurecimento. Durante muitos anos, acreditou-se que os adolescentes não eram afetados por esta doença, porém, atualmente os especialistas sabem que os adolescentes são tão suscetíveis à depressão quanto os adultos. Depressão é uma doença crônica e não ocorre só em adultos, mas também em crianças e adolescentes. Nesta faixa etária não é tão simples o diagnóstico quanto em outras fases da vida e muitos sintomas podem ser confundidos com desejo proposital de desobediência e rebeldia.

Estima-se que a depressão está presente em 1% das crianças e 5 % dos adolescentes e representa a maior causa de suicídio nessa faixa etária. Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o risco da criança/adolescente. O quadro é mais comum entre portadores de doenças crônicas como diabetes, epilepsia ou após algum evento deflagrador de estresse como perda de um ente querido ou a pressão para realizar provas no colégio ou vestibular. A negligencia dos pais e/ou violência domiciliar também aumentam o risco. Portanto pais, professores e amigos, percebendo um jovem com estado de espírito persistentemente irritado, atormentado, tristonho, com baixo rendimento escolar ou na faculdade, com prejuízo em suas relações familiares e com dificuldade em ter amizades, seria importante procurar ajuda de um especialista para confirmar e tratar de forma precoce essa doença que afeta milhares de pessoas pelo mundo, pois, diferentemente de quadros temporários de tristeza ou melancolia, os quais são sentimentos que fazem parte da vida e que irão desaparecer sem tratamento ou como no meu caso com umas voltas de bicicleta. Por outro lado, uma pessoa que sofre de um transtorno depressivo raramente irá conseguir superar o problema espontaneamente.

10 SINTOMAS MAIS COMUNS DE DEPRESSÃO EM ADOLESCENTES:

– Isolamento (dificuldade em se relacionar e mostrar seus sentimentos);

– Rebeldia (envolvimento em situações perigosas e arriscadas/sentem desejo de fazer uso de drogas; ficam violentos e até mesmo fogem de casa)

– Irritabilidade

– Melancolia

– Sentimento exagerado de culpa

– Apatia

– Interesse ou prazer pela maioria das atividades claramente diminuídos

– Tristeza (em adolescente pode-se diagnosticar depressão, mesmo que o sintoma de tristeza não seja tão aparente)

– Perda de apetite ou ganho signativo de peso

– Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida ou qualquer tentativa de atentar contra a própria vida.

COMO TRATAR?

Primeiro passo: Procurar um especialista para confirmar de forma precisa o diagnóstico de depressão. Além do diagnóstico de depressão o médico afastará/confirmará outros diagnósticos possíveis associados como: compulsão alimentar, abuso de drogas, déficit de atenção, distúrbio de sono como hipersonia diurna, etc.

Segundo passo: Esclarecer aos pais destas crianças/adolescentes/adulto jovem sobre a natureza desta enfermidade. Informá-los quanto à necessidade de muita compreensão, devendo evitar cobranças em excesso e severidade. Além disso, procurar orientá-los sobre possíveis estratégias de tratamento. Depressão não tratada é uma dos principais fatores que levam ao suicídio, especialmente na adolescência.

Terceiro passo: Terapias medicamentosas e não medicamentosas:

Terapia medicamentosa: uma das classes medicamentos mais utilizadas são os inibidores de recaptação de serotonina. 60% dos adolescentes respondem à medicação e apresentam menos efeitos colaterais e menor risco de complicações por superdosagem do que outros antidepressivos.

Psicoterapia: a terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, objetiva identificar e modificar padrões cognitivos e comportamentais que conduzem à depressão. Essa técnica procura reinserir o jovem à sociedade melhorando suas relações interpessoais e ensinam a encontrar o prazer em atividades rotineiras.

Estimulação Magnética Trascraniana (EMTr) e Estimulação por Corrente Contínua (TDCs): terapias mais modernas de neuromodulação estão sendo utilizadas como uma alternativa ao tratamento medicamentoso. Tanto a EMTr quanto a TDCS são técnicas não invasivas, indolor e que modificam e reorganizam a atividade cerebral objetivando melhorar os sintomas depressivos de forma eficaz e com baixo índice de efeitos colaterais com uma grande vantagem diante dos medicamentos: não prejudicam a cognição. Muito ao contrário, existem vários estudos que comprovam melhora do desempenho cognitivo (atenção, memória, cálculo, pensamento estratégico e tomada de decisão) após tratamento com essas técnicas de neuromodulação.

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por Drª Vanessa Muller

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