Estimulação Transcraniana para reabilitação de Acidente Vascular Cerebral

O que é acidente vascular cerebral?

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma condição neurológica resultante de uma disfunção vascular, caracterizada por um déficit súbito que persiste por pelo menos 24 horas e pode levar à morte do paciente. Trata-se de um importante problema de saúde pública, sendo a principal causa de óbito em diversos países, com incidência progressivamente crescente. As sequelas decorrentes de um AVC têm um impacto significativo na vida dos pacientes, resultando em incapacidades e consequências graves para a função dos membros superiores e inferiores. Frequentemente, esses pacientes enfrentam limitações em suas atividades diárias e restrições na participação social, resultando em uma deterioração da qualidade de vida relacionada à saúde.

Quais as consequências do AVC?

As disfunções motoras do membro superior são diretamente causadas pela interrupção da transmissão dos sinais do córtex motor para a medula espinhal, que são responsáveis pela geração do impulso necessário à execução dos movimentos musculares. Essa interrupção no impulso nervoso resulta em atraso no início e término da contração muscular, bem como na lentidão no desenvolvimento das forças musculares.

Quais são as opções terapêuticas com estimulação neurológica mais utilizadas para reabilitação de pacientes pós-AVC?

Dentre as opções terapêuticas para a reabilitação de pacientes com sequelas motoras pós-AVC, destaca-se a estimulação transcraniana não invasiva, que atua no córtex motor para promover um aumento na plasticidade cortical. Atualmente, existem dois tipos principais de estimulação transcraniana não invasiva: estimulação por corrente contínua (tDCS) e estimulação magnética repetitiva (rtMS).

A estimulação por corrente contínua é um método seguro e indolor que induz modificações prolongadas na excitabilidade cortical. Ela envolve a aplicação de dois eletrodos: um anódico (polo positivo), que aumenta a excitabilidade do córtex motor afetado, e um catódico (polo negativo), que diminui a excitabilidade do córtex motor não afetado.

Por outro lado, a estimulação magnética transcraniana é utilizada para modular a capacidade de excitação neural. Essa técnica gera um campo eletromagnético direcionado por meio de uma bobina em formato de oito, que atravessa o crânio e estimula a área cortical adjacente por meio da indução de cargas elétricas no tecido cerebral. A aplicação de frequências elevadas aumenta a excitabilidade cortical, enquanto as frequências mais baixas têm o efeito oposto.

O que os estudos atuais revelam sobre estimulação transcraniana para AVC?

A literatura atual revela que a estimulação transcraniana, tanto por corrente contínua (ETCC ou tDCS) quanto magnética repetitiva (rtMS), pode ser associada a diversas terapias de reabilitação, como terapia do espelho, terapia de observação, terapia de movimento induzido por restrição, programa orientado a tarefas funcionais repetitivas e fisioterapia convencional. Uma recente revisão sistemática analisou o uso da estimulação transcraniana não invasiva e concluiu que todos os estudos demonstraram efeitos positivos na funcionalidade e na função motora dos membros superiores afetados em pacientes com AVC, resultando em melhorias na qualidade de vida.

Em relação à estimulação transcraniana por corrente contínua, estudos recentes investigaram a aplicação da ETCC na função motora do membro superior em pacientes com AVC, em combinação com a terapia do espelho. Ambos os estudos aplicaram a ETCC antes da terapia do espelho, resultando em melhorias na função motora e funcionalidade das atividades de vida diária. Outra pesquisa utilizou a ETCC catódica para inibir o hemisfério não afetado, seguida pela terapia ocupacional. Esse estudo demonstrou melhora na função e no uso da extremidade superior. Uma recente investigação combinou a ETCC anódica com a terapia ocupacional, resultando em melhora da força de preensão em comparação com a terapia ocupacional isolada.

Além disso, autores combinaram a ETCC com o programa orientado a tarefas funcionais repetitivas, resultando em melhorias na destreza e no funcionamento do membro superior. Um recente estudo combinou a ETCC com a terapia de movimento induzido por restrição, resultando em melhorias na função e no uso da extremidade superior na vida diária do paciente. Ambos os estudos mostraram que a combinação das terapias aumentou seus efeitos positivos.

Em relação à estimulação transcraniana por corrente contínua combinada com fisioterapia e terapia ocupacional, duas pesquisas avaliaram os efeitos na espasticidade. Ambos os estudos demonstraram resultados positivos na redução da espasticidade e na melhora da função motora e funcionalidade da extremidade superior.

No que diz respeito à estimulação magnética transcraniana, um estudo avaliou a aplicação da rtMS de baixa frequência combinada com ETCC catódica sobre o córtex motor não lesado, resultando em melhora na recuperação motora do membro superior. Outra investigação combinou a rtMS com a estimulação elétrica neuromuscular nos músculos extensores da mão, resultando em melhorias imediatas e duradouras na recuperação motora da mão parética.

Outros estudos anteriores também mostraram resultados positivos na funcionalidade, função motora e espasticidade dos membros superiores afetados após AVC com a intervenção da estimulação transcraniana por corrente contínua e magnética repetitiva. Esses estudos indicam que a estimulação transcraniana, quando combinada com terapias de reabilitação convencionais, pode potencializar seus efeitos e promover a recuperação motora em pacientes com AVC agudo, subagudo e crônico.

Fonte: RUNA – Repositório Universitário da Ânima: A efetividade da estimulação transcraniana na função motora e funcionalidade dos membros superiores em pacientes com AVC: Uma revisão integrativa da literatura (animaeducacao.com.br)