Previna o colapso no trabalho. Sim, há formas de se evitar o ‘Burnout’

Fala se muito em segurança do trabalho, ergonomia, LER. Entretanto, a saúde mental do empregado ainda é um assunto pouco explorado. Ele vai ao médico do trabalho e o periódico consiste em algumas perguntas relacionadas à dor e à pressão arterial. Às mulheres acima de 40 anos solicita-se mamografia, aos homens, PSA, para afastar hiperplasia prostática; operador de máquinas, faz uma audiometria. Poucos minutos após, o exame físico; ausculta cardíaca e pulmonar e Saúde ótima, hein? O fato é que pouco se pergunta sobre o estado mental do trabalhador. E, quando o faz, por medo ou vergonha, provavelmente, responderia – um pouco cansado Dr, mas tudo bem. Quem não está? Não é mesmo?

Avaliação cognitiva e psíquica, só na admissão. O que você faria na situação A ou na situação B? Desenhe uma árvore. Parece que esse filtro e qualificação são eternos. Uma vez admitido e bem mentalmente, para sempre o será. Infelizmente isso não ocorre. Há um grande impacto do trabalho na saúde física e mental dos profissionais. Vários são os componentes que interferem na saúde desses profissionais. Dentre eles, destacam-se pressão no tempo, estado de alerta, fragmentação das tarefas, questões administrativas, ambientais e de relacionamentos. Ainda, fatores como competitividade, baixa autonomia, invariabilidade das atividades, insegurança no trabalho, falta de apoio (colegas e chefes) e sentir-se sobrecarregado estariam relacionados ao aumento do estresse. Associado a isso nem sempre o trabalho é fonte de realização profissional, podendo gerar problemas de insatisfação e exaustão, o que pode afetar a qualidade dos serviços prestados e predispor a síndrome do esgotamento profissional ou Burnout.

A Síndrome de burnout foi descrita pela primeira vez como staff burnout por Freudenberger, em 1974. A síndrome sobrevém quando falham outras estratégias para lidar com o estresse crônico do trabalho levando o indivíduo a apresentar uma vigorosa resposta emocional.  O indivíduo sofre cronicamente, sente-se esgotado não dispondo de mais nenhum resquício de energia para levar adiante as atividades laborais e é acometido pela forte  sensação de que não se encaixa mais em sua profissão. O termo “Burnout” (do inglês, “queimar até a exaustão”), inclusive, indica o colapso após a utilização de toda a energia disponível. O cotidiano no trabalho passa a ser penoso e doloroso.  Para Maslach e Jackson, a SB é constituída de três dimensões: (1) exaustão emocional (EE): forte sentimento de tensão emocional, sensação de esgotamento e de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com rotinas da prática profissional; (2) despersonalização (DS): insensibilidade emocional do profissional, levando-o a um contato frio e impessoal com os receptores de seus serviços e com seus colegas de trabalho. Os contatos tornam-se impessoais, desprovidos de afetividade, desumanos. Por vezes o indivíduo passa a apresentar comportamentos ríspidos, cínicos ou irônicos; e (3) baixa realização profissional (BRP): autoavaliação negativa, associada à insatisfação e ao desânimo com o trabalho e com o próprio desempenho profissional, cuja sensação de mau resultado leva a uma sensação de incompetência. Há um sentimento de descontentamento pessoal, o trabalho passa a ser um fardo.  A depender da intensidade e do tempo de duração desse estado, o indivíduo pode vir a sofrer consequências graves, em nível físico e psicológico, caso não possa restaurar o contexto anterior ou desenvolver mecanismos adaptativos que lhe permitam restabelecer o equilíbrio perdido.

O que fazer para evitar SB?

O trabalho é muito importante no contexto de vida das pessoas. Porém, o mesmo trabalho que dignifica confere identidade, crescimento e reconhecimento ao ser humano, pode ser fonte de sofrimento e de adoecimento físico e mental. Tenha consciência disso.

Evite trabalhar em locais insalubres, inadequados, seja por falta de ergonomia, organização, material e com muita sobrecarga de trabalho (superlotação, falta de preparo da equipe) influenciam de forma negativa na qualidade de vida no trabalho e na qualidade do trabalho.

Evite trabalhar com contratos terceirizados. O fato de não receber benefícios, não apresentar um plano de carreira, predispõe a sensação de menos-valia comparados aos contratados CLT.

Prefira trabalhar em instituições/empresas com imagem positiva. Isso motiva e dá uma sensação de realização profissional. Estimula o sentimento de orgulho de trabalhar em empresas idôneas que oferecem um serviço renomado à população.

Prefira trabalhos em que você se sinta útil. A percepção da utilidade do próprio trabalho tem valor inegável para a autoestima do trabalhador. A baixa realização pessoal influencia na queda da produtividade e na falta de realização no trabalho, podendo ser exacerbada por falta de apoio social e de oportunidades de desenvolvimento pessoal.

Evite trabalhos que haja muita competitividade, baixa autonomia, invariabilidade das atividades, insegurança no trabalho, falta de apoio (colegas e chefes). Este ambiente o fará se sentir muito estressado.

Não faça concursos os quais você acha que será mal remunerado. Se todos deixassem de fazê-lo certamente, aumentariam os salários. O fato de se sentir desvalorizado não justificará um mal atendimento pelo serviço prestado. Lembre-se disso.

Mesmo as empresas com as melhores intenções vão querer sugar todo o seu conhecimento, toda a sua capacidade, extrair o máximo de sua mão-de-obra. Estabeleça um limite de horas/dia trabalho. Evite trabalhar mais do que 40h/semanais.

Se perceber que não tens reconhecimento de seu superior, apesar de todos os investimentos e esforços, se puder procure outro estabelecimento em que haja incentivo. A falta de reconhecimento pode influenciar na baixa realização profissional.

Tempo é saúde. A pressão constante para cumprir os horários, fazer os procedimentos, atingir metas, deslocar de um lugar para outro  rapidamente aumentará seus níveis de cortisol.

Ao chegar à casa desligue o celular do trabalho e não entre no email da empresa. Com as tecnologias atuais, as pessoas continuam a ficar disponíveis e trabalhando 24h para a empresa.  Caso você seja médico ou exerça uma profissão que demande uma atenção especial ao cliente estabeleça um horário para retornar as ligações. Oriente seu paciente a procurar uma emergência sempre em caso de risco.

Cada pessoa tem um limiar e lida com estresse de uma forma diferente. Se porventura reconhecer mudança no seu comportamento procure ajuda de um medico especialista ou de um psicólogo. Provavelmente ajudarão a desenvolver estratégias de natureza comportamental cognitiva e capacidade de autoavaliação, para eliminar ou reduzir fontes de estresse.

Às vezes você não tem consciência de que está muito estressado, fadigado ou até doente. Se estiver escutando muito frequentemente de seus colegas ou de seus familiares que você deveria tirar férias, folga, provavelmente você precisa.

Estimule suas habilidades de comunicação (comunicação informativa, empatia, respeito e habilidade social). O indivíduo que se comunica se sente mais seguro, mais confiante, mais competente e apresenta uma maior capacidade de estabelecer relações interpessoais com seus colegas de trabalho e com seus pacientes e desta forma previne, amortiza ou até diminui suas experiências de estresse laboral crônico.

Evite trabalhar em lugares ruidosos. A sobrecarga de ruídos leva à ativação simpatico-adrenal aumentando os níveis de cortisol que estão relacionados à ansiedade em pessoas normais e tal resposta é aumentada em indivíduos com ansiedade crônica e/ou hipertensão arterial.

Faça pausas esporádicas durante sua jornada de trabalho.

Tenha um estilo de vida saudável. Isso sim é ter uma vida de sucesso.

Menos é mais. Você trabalha a mais para quê? Se for para comprar um carro 3.0 top de linha, pergunte-se se o tempo que você gastará trabalhando para pagá-lo compensará.

Durma bem. Os distúrbios do sono estão muito relacionados à perda cognitiva (memória, atenção, concentração) e aumento da suscetibilidade a distúrbios psiquiátricos.

Coma bem. Reserve tempo para suas refeições. Seu cérebro precisa de glicose para obter um bom desempenho. Além disso, a baixa de glicose no sangue fará com que se sinta fadigado, com sono e irritado.

Faça exercícios físicos

Medite

Leia livros ou faça cursos em áreas diferentes do seu ofício.

Alguns autores enfatizam que um relacionamento afetivo estável e ter filhos podem ser uma variável protetora para SB, possivelmente devido à associação da maternidade/paternidade.

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REFERÊNCIAS:

1) Freudenberger H. Staff burnout. J Soc Issues. 1974;30:159—65.2. Maslach C, Jackson E. The measurement of experienced bur-nout. J Occup Behav. 1981; 2: 99-113.

2) Maslach C, Schaufeli B, Leiter P. Job burnout. Annu Rev Psychol.2001; 52:397-422.

3) Prosdócimo AC, Lucina LB, Marcia O, Jobs PM, Schio NA, Baldanzi FF, Costantini CO, Benevides-Pereira AM, Guarita-Souza LC, Faria-Neto JR. Prevalence of Burnout Syndrome in patients admitted with acute coronaru syndromPr

Arq Bras Cardiol. 2015; 104(3):218-25.

4) Pranjic N, Males-Bilic L. Work ability índex absenteeism and depression among patients with burnout  syndrome

Mater Sociomed. 2014 Aug;26(4):249-52.

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